sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Assassino era o Escriba — Paulo Leminski

Leminski, foto Dulce Helfer.

O ASSASSINO ERA O ESCRIBA
Paulo Leminski


Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.


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Do livro Caprichos & Relaxos
Coleção Cantadas Literárias. Ed. Brasiliense.

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