quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Lamentos de Ipu-ur - Poesia Egípcia (XII Dinastia)

Lamentos de Ipu-ur


Em verdade o rosto está pálido () o
que os ancestrais predisseram aconteceu.

Em verdade () o país está cheio de bandos [revoltosos],
e para lavrar um homem leva seu escudo.

Em verdade o cordato diz () é um homem de recursos.

Em verdade [o rosto] está lívido e o arqueiro está pronto,
o crime alastrou-se e não há homens como antigamente.

Em verdade os ladrões estão por toda parte,
os criados levam o que encontram.

Em verdade o Nilo inunda mas ninguém lavra para si,
pois todos dizem "Não sabemos o que sucederá ao pais".

Em verdade as mulheres estão estéreis, nenhuma concebe:
Chnum não molda [mortais] por causa da situação do pais.

Em verdade os pobres passaram a exibir luxo,
e o que não podia ter () sandálias possui riqueza

Em verdade os criados estão vorazes
e o poderoso não mais compartilha [de alegria] com sua gente

Em verdade [os corações] estão violentos, a calamidade varre o país,
há sangue por toda parte, não faltam mortos:
as faixas das múmias clamam para que se chegue a elas.

Em verdade muitos mortos são atirados no rio:
a correnteza virou sepultura e o Lugar Puro virou torrente.

Em verdade os ricos deploram e os pobres exultam;
cada cidade diz: "Expulsemos os poderosos!"

Em verdade as pessoas são como os ibis: a sujeira alastra-se
e hoje ninguém possui vestes brancas.

Em verdade o pais como que roda no torno do oleiro:
o salteador torna-se rico e o rico [torna-se] ladrão.

Em verdade os criados de confiança são como ()
Os habitantes [exclamam]: "Ai, o que será de mim?"

Em verdade o rio é sangue:
bebido, é vomitado porque [nele] há gente,
embora continue a sede de água.

Em verdade os crocodilos [estão] fartos de suas presas,
(pois) as pessoas atiram-se a eles de propósito.
O pais está ultrajado.

Todos dizem: "Não andes por aqui, é uma armadilha!"
As pessoas debatem-se [na água] como peixe,
os assustados nada distinguem em seu terror.

Em verdade () povo diminuiu,
o que enterra seu irmão está por toda parte.
A palavra do sábio logo fugiu.

Em verdade o filho do rico não é mais reconhecido,
o filho da senhora tomou-se (como) filho de sua criada.

Em verdade ()
não há egípcio em lugar algum.

Em verdade ouro, lápis-lazúli, prata e turquesa,
cornalina, ametista, ibehaty e [todas] as nossas [jóias]
pendem no pescoço das criadas.


Papiro de Ipu-ur (fragmentos) 
Escrito ao final da XII Dinastia e o Segundo Período Intermediário do Egito, entre 1850 a.C. e 1600 a.C.

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